Queria entender um pouco mais sobre o que é o sentimento de carinho com os cães. Sempre estive perto deles, mas apenas dois vivendo em apartamento em função de filha e esposa. Por vezes, esse apego aos animais supera qualquer avaliação que gostaríamos definir como racional. Imagino que as pessoas já não se bastam em termos de relacionamento. Querem um pouco mais, talvez porque os animais, se cuidados e alimentados, abanam o rabo como agradecimento. Ou porque são ouvintes passivos, ouvem qualquer coisa e, dependendo do tom do dono, continuam abanando o rabo, pulando ou dando seus latidos.
Tenho algumas estórias sobre vivências com cachorros. Uma delas é a do mini-pincher que Cristina, minha mulher, trouxe escondido na bagagem do ônibus quando viajava a trabalho em Cascavel. Demos o nome de Leonardo, ou Léozinho como era chamado. O bichinho era muito pequeno e bonito, engraçado, alegrava meus filhos, nós já morando ali na Travessa Lange, em Curitiba, no Batel. Mas era barulhento e não gostava de outras crianças e de diaristas. Chegava a avançar. Quando meu cunhado Carlos tentou um dia tirar um espinho da boca dele, levou uma mordida bastante doída. Um dia, em companhia do companheiro Dimer Webber, levei-o numa viagem de trabalho a Paranaguá. Chegando na cidade, ao dar uma curva, com os vidros abertos, o danado não teve dúvida, saltou para fora. Foi difícil apanhá-lo. De tanto latir para diaristas, foi dado a uma delas, que morava em casa, no fundão do Atuba. Soubemos que ele morreu um dia, atropelado por um carro, quando fugiu do cercado. Claro que sua morte ainda hoje provoca saudades de familiares.
Tivemos também a Carlota Joaquina, olhem só o nome, uma poodle branquinha com pelo enrolado, ´presente´ de rotaractianos amigos da filha Alessandra, num dos seus aniversários. Todos se apegaram a ela, principalmente Cristina, que tinha uma companhia em casa depois que Alessandra casou e não a levou. Ficou conosco mais de 13 anos, tendo morrido depois de acometida de câncer nas mamas. Até hoje minha mulher não se recuperou plenamente com sua morte. Carlota tinha um ciúme da ´companheira´ que avançava em quem se aproximava dela…
Tive uma cadela Rotweiller chamada Ludovica, ou Luda, que teve uma passagem não muito longa conosco na chácara após abocanhar e matar uma cadelinha mini da neta Stella. Essa, na verdade, seria uma nefasta lembrança.
Mas estou hoje falando de cão porque o nosso atual preferido Marmelo, um labrador misturado, sumiu daqui da chácara há uma semana. Ele sempre aposta corrida com meu carro quando saio, por uns trezentos metros. Ele chega a atingir 50 km/h. Há perto da chácara umas prainhas no Lago Passauna e ele costuma ´visitar´ pessoas que costumam fazer churrasco. Vai lá para apanhar uns ossos. Chega a desaparecer por dias quando há alguma amiga no cio, cumpre o seu trabalho e retorna. Numa vez, há uns oito meses, ficou dez dias fora, voltando emagrecido e com uma coleira nova. Soubemos que alguma criança tinha se apegado a ele e, dócil como é, foi levado para alguma casa. Mas ao se soltar voltou.
Temos um outro cachorro, o Freddy, uma mistura de Akita com Dobermann, que nos atende para afugentar candidatos a roubos. Mas o seu companheiro, e nosso, abandonou o lar, ou foi forçado a isso. Espero que aconteça como da outra vez, que consiga voltar. Pois suas corridas e latidos estão fazendo falta.
Não sei bem, mas esses apegos a animais instigam sentimentos um tant inexplicáveis…
Acho que sou racional demais. Meu apego não vai além dos cuidados, como um dever humano. Atualmente alimento 4 gatos no terreno baldio ao lado mas nem penso em abrir a porta para um deles.
Já um humaninho carente… não me deixe perto de um que me vem idéias de adoção. Meu coração é de gente.
Faltou mencionar a arrepiada!
Verdade, a Arrepiada apareceu durante a construção da casa grande, se escondia entre ripas, tábuas e sarrafos, vinda molhada talvez jogada por alguém de barco. Era para se afogar nas bravamente se salvou. Teve filhotes que foram doados para conhecidos. Adoeceu e nenhum remédio ajudava. Até hoje me acusam de te-la enterrada viva, claro que isso virou lenda mórbida aqui na Roça Velha…