Estou nestes tempos muito inquieto e desolado com as coisas que vivencio, completando hoje 21.218 dias como jornalista profissional e mais uns seis meses de estágio como auxiliar do meu inesquecível amigo e companheiro Mauro Onivaldo Ticianelli.
Vivi o início e o fim da fase dita revolucionária de 1964, ou regime militar, ou ditadura militar, e nunca fui censurado nos meus escritos. Vantagem foi que minhas colunas “Fala o Povo” na Última Hora e “O Povo Reclama” no Diário do Paraná eram apenas de críticas às coisas municipais, mesmo com prefeito nomeado da ultra direita. Outra vantagem foi que o jornal Diário do Paraná também era conservador de direita. Pode ser que me aguentavam pelo fato de que o regime mostrava, ou queria mostrar, haver liberdade de expressão. Uma verba de 10 mil cruzeiros mensais da Prefeitura de Curitiba acabou com essa coluna e virei editor da coluna chamada ´´”Ciranda dos Clubes” e depois seu colunista social.
Vivenciei prisões de colegas jornalistas, muitas pelos militares mas grande parte por policiais civis que se aproveitavam do regime de exceção para se vingarem dos comunicadores que denunciaram nas páginas da “Última Hora” seus constantes achaques e prisões de inocentes… A censura existiu nos grandes veículos de comunicação, como Veja, Jornal do Brasil, Estado de São Paulo, Correio da Manhã e Correio Braziliense. No lugar da matéria censurada por censores presentes nas redações os veículos punham receitas de bolos.
Os tempos mudaram, surgiram novos meios de comunicação e se criou uma forma instantânea de relacionamento, as mídias sociais. Primeiro era pelo Skype e e-mails, descartando-se aos poucos o telefone por fio. As inovações continuaram com YouTube, Twitter, Instagram, Linkedin, Orkut e Slype (que duraram pouco) transformando o mundo e o poder mais perto das pessoas. E veio a arma mortal para quem quisesse escamotear as leis e suas aplicações dentro de Constituições, com as punições nas mãos e nas mentes dos integrantes dos tribunais que deveriam ser os guardiões da verdade, da justiça e da vida pacífica das populações.
Trinta anos depois do fim da “ditadura militar”, ou “regime militar”, eis que novas facetas do poder aparecem, aceitas e implementadas pelos que considerávamos “quardiões da liberdade e da democracia”, aquelas pessoas com cargos vitalícios sem serem concursados para serem servidores públicos. Cassam páginas de blogues pessoais, determinam regras para noticiários em jornais e TVs, condenam sem qualquer procedimento constitucional até deputados federais, sem se importarem com a opinião pública e nem com os cidadãos que pagam seus elevados proventos. Censuram até o que vai ser publicado, capando pesquisas e pensamentos…
O meu desalento resume-se assim: em pleno Século 21, vejo surgir a censura aberta do judiciário, invadindo prerrogativas constitucionais do Executivo e do Legislativo, tentando calar os líderes pensantes e representativos, tudo ao arrepio da legislação.
O que resta ao povo que, mediante centenas de tributos aportados nos municípios, estados e país, está vendo e sentindo tudo isso? Ir às ruas. Afinal, está na Constituição do Brasil que “todo poder emana do povo”.
Parabéns pelo resgate, de como já foi e do como é hoje. Por fim, Surek, sua análise, após refletir sobre o contexto e as imposições ilegais que vivemos, é, infelizmente, perfeita. Abraço
Meu caro Cleudo. Não me satisfaço com este artigo, ele é doído para os tempos da nossa vida. Nunca imaginei viver esse clima desolado… Obrigado pelo apoio.